Uma investigação do The Intercept Brasil revelou que trabalhadores em situação de rua foram explorados na montagem e desmontagem dos palcos do festival Lollapalooza, realizado no autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo. Os trabalhadores foram transportados de Mooca, na zona leste da cidade, em uma van branca sem identificação.
Segundo relatos, os trabalhadores receberam entre R$ 40 e R$ 50 por jornadas de 10 a 12 horas de trabalho, sem qualquer formalização ou proteção trabalhista. A denúncia partiu do padre Julio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, que divulgou um vídeo no Facebook e solicitou ao Ministério Público do Trabalho que investigue o caso.
Os trabalhadores afirmaram que não receberam equipamentos de proteção, como capacetes, luvas ou sapatos adequados, e que a segurança no local era inexistente. Eles foram encarregados de trabalhos simples, mas extremamente pesados, como carregar caixas de som e estruturas para dentro e fora de caminhões.
O recrutamento ocorria em albergues na região da Mooca, onde um “recrutador” selecionava os trabalhadores entre dezenas de moradores em situação de rua. Segundo padre Julio Lancelotti, o mesmo recrutador já levou os moradores para trabalhar em outros shows, como a Virada Cultural e o show da cantora Katy Perry no Allianz Parque.
Apesar de alguns trabalhadores afirmarem que o serviço vale a pena, outros disseram que não voltariam a trabalhar nessas condições. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê diversas maneiras de contratar trabalhadores temporários e formalizá-los, além de obrigar os empregadores a cumprir com todas as regras de segurança do trabalho.
O Lollapalooza foi questionado pelo The Intercept Brasil sobre as condições de trabalho e a contratação de empresas subcontratadas, mas a resposta se limitou a afirmar que a organização do festival contratou “empresas especializadas” e que sempre prezou pela segurança dos funcionários e prestadores de serviços.