Apolo e Dafne, o primeiro livro de poemas de Francisco Sulo, trás em seu bojo uma poesia digna de contemplação e degustação, carregada de erotismo do início ao fim. Ora mais explícito, ora mais implícito; mas sempre ricamentes orquestrados e esculpidos através de sua rica e conhecida diversidade vocabular.
Mestre Sulo utiliza-se do vasto conhecimento bíblico adquirido em sua juventude e da influência absorvida mediante a leitura de grandes nomes da modernidade para criar versos ricos em detalhes minuciosos dos mais puros e antigos desejos do Homo sapiens: a contemplação e apreciação do corpo como força motriz que produz, libera e absorve prazer. AÇOUGUEIRO, CARNE, PARAÍSO, AMANTES, PILASTRAS e LASCÍVIA são alguns exemplos desta edição que transmitem uma paixão tão avassaladora capaz de fazer o eu-lírico cometer o mais louco dos pecados, para satisfazer seus desejos.
O poeta discorre sobre temas de interesse comum a leigos e catedráticos e os faz com uma maestria peculiar capaz de alcançar a ambos os públicos. A riqueza de detalhes, no entanto, em alguns poemas combinada com a diversidade cultural e vocabular, que são características do autor, tornam a leitura difícil do ponto de vista de quem está acostumado a uma leitura mais singela. O que em nada diminui o prazer contemplativo da obra como um todo.
Percebe-se ainda a importância que o autor dá à existência única do indivíduo e atribui a este fator a necessidade de que o mesmo valorize esta oportunidade (única) e a viva sem ressentimentos, pois “na vida não se aprende sem a dor da tentação” – BRINCAR COM FOGO, em que pesem as muitas tentativas que a sociedade faz de o advertir dos perigos iminentes.
Tanto os desejos da paixão e a busca incessante do amor parecem ter em comum a contemplação sóbria do autor de que o tempo passa e a certeza que resta é a de que a brevidade da vida e a incerteza futura são nossas únicas certezas enquanto humanos: “O que você demora / É o tempo que leva” (EI, DONA).
Por Wendell Miranda
Poeta, administrador público e contador.