Boate Kiss 10 anos da noite que mudou o Brasil

Boate Kiss a noite de horror que mudou a história do Brasil
Boate Kiss
Foto por Leandro LV - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0
2 anos ago

A boate Kiss era o sonho de Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko, como era conhecido. Ele era o sócio principal, mas não o dono oficial, que era Mauro Londero Hoffmann, um empresário bem estabelecido na cidade. 

A boate era um sucesso, com filas de clientes que chegavam a 1 400 por noite. No entanto, a capacidade era de apenas 691 pessoas. Na noite do incêndio, havia entre 1.000 e 1.500 pessoas no local.

Kiko, que era vocalista de uma banda, modelo e ator, queria usar a boate como uma plataforma para sua carreira comercial. Ele incentivava jovens universitários a promoverem festas na boate, oferecendo comissões pelas vendas de ingressos. Isso levou a boate a ter de 3 a 4 festas por semana, com 15 a 25 reais por pagante. Na noite do incêndio, a maioria dos clientes eram estudantes da UFSM.

Boate Kiss
Por Leandro LV – Obra do próprio, CC BY-SA 3.0

A boate já havia enfrentado uma ação judicial em 2012 por impedir a saída de uma cliente sem que ela pagasse a conta. Além disso, depois do incêndio, um segurança relatou que nunca recebeu treinamento contra incêndios e que não havia portas de saída de emergência.

A tragédia da Boate Kiss

A tragédia ocorrida na boate Kiss em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 27 de janeiro de 2013, ainda é lembrada como uma das maiores tragédias na história do Brasil. O incêndio, que matou 242 pessoas e deixou mais de 100 feridas, foi causado por um sinalizador de uso externo utilizado pelo vocalista da banda Gurizada Fandangueira. 

A banda que se apresentava na noite do incêndio misturava ritmos sertanejos com música tradicional gaúcha. Eles usavam pirotecnia em suas apresentações, mas afirmavam que nunca houve um acidente antes. A fumaça espessa se espalhou rapidamente pela boate devido à espuma usada como isolamento acústico, que era ineficiente contra fogo.

Boate Kiss
Por Leandro LV – Obra do próprio, CC BY-SA 3.0

A boate, localizada na Rua dos Andradas, 1925, no centro da cidade, foi invadida por uma multidão de estudantes universitários e técnicos da Universidade Federal de Santa Maria. Quando o incêndio ocorreu, os seguranças que estavam na saída da boate não permitiram que as pessoas saíssem pela única porta, confundindo a situação com uma briga ou tentativa de saída sem pagamento.

Muitas vítimas forçaram a saída pelos banheiros, confundindo-os com portas de emergência. O resultado foi trágico, 90% dos corpos foram encontrados nos banheiros. Durante o incêndio, uma das vítimas conseguiu enviar uma mensagem pelo Facebook, pedindo ajuda, mas sem obter resposta.

Além das vítimas fatais, muitos sobreviventes foram intoxicados pelo cianeto presente no ambiente, e a falta de um antídoto específico para esse tipo de intoxicação foi um dos maiores problemas após a tragédia. Infelizmente, os pacientes foram tratados de forma equivocada, recebendo um medicamento que contém ciano, o que agravou ainda mais o prognóstico. Só após a intervenção direta do Palácio do Planalto e a participação da Dra. Solange Cristina, pesquisadora em toxicologia, é que foi enviado o antídoto correto pelos EUA.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou o atendimento aos feridos, e centenas de voluntários, incluindo médicos, psicólogos, enfermeiros, policiais e soldados, se reuniram no Centro Desportivo Municipal Miguel Sevi Viero para prestarem assistência. O ginásio foi utilizado inicialmente para as famílias realizarem o reconhecimento dos corpos, pois o Instituto Médico Legal da cidade só tinha capacidade para dez corpos.

A tragédia foi acompanhada de perto pelo país e o Senado Federal propôs o Projeto de Lei n° 9.006-A/2017 para incluir a formulação e execução de uma política de informação e assistência toxicológica e logística de antídotos e medicamentos para intoxicações no campo de atuação do Sistema Único de Saúde.

A boate Kiss, infelizmente, não tinha medidas de segurança adequadas para evitar uma tragédia como esta. A espuma usada como isolamento acústico não tinha proteção contra fogo, e não foi notada pelos órgãos de fiscalização, como os bombeiros e a prefeitura. Além disso, a falta de comunicação entre os seguranças e a confusão na saída da boate resultaram em uma situação ainda mais caótica.

O incêndio na boate Kiss foi resultado de uma série de erros e omissões dos poderes públicos, incluindo um documento precário emitido pelos bombeiros usado como Plano de Prevenção e Combate a Incêndio. A tragédia poderia ter sido evitada com medidas de segurança adequadas e fiscalização rigorosa.

Mágson Alves

CEO Nexo Norte

Servidor Público | Fotógrafo | Videomaker

Assessor de comunicação

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